Paralisação inclui policiais civis e bombeiros. Corporação não trabalha com hipótese de greve
Enquanto
aguarda um posicionamento do governo e da corporação sobre o movimento
grevista, integrantes da Polícia Militar do Rio de Janeiro dão claros
indícios de que a greve no começo de fevereiro é inevitável.
Ao Jornal do Brasil, um grupo de policiais militares lotados em
Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) denunciou uma série de
irregularidades que afligem o carro-chefe da política fluminense no
quesito segurança pública .
Baixos salários, escalas de trabalho que superam 70 horas semanais,
agentes de outros municípios forçados a viver nas UPPs em função do
sistema deficitário de vale-transporte oferecido pelo governo do estado,
gratificações incompatíveis com determinadas funções, problemas no
"bico legalizado" do Proes. Estas são apenas algumas das razões pelas
quais, segundo os integrantes do movimento grevista, foi escolhido o dia
8 de fevereiro como data limite para receber algum posicionamento das
autoridades.
Do contrário, o Rio de Janeiro corre o risco de ficar sem o
policiamento rotineiro a partir do dia 10 de fevereiro. A Polícia Civil e
o Corpo de Bombeiros também dão sinais de que podem aderir ao
movimento, o que instalaria o verdadeiro caos no estado.
O perfil dos nossos governantes é o daquela pessoa que paga para ver.
Eles vão esperar o problema estourar para depois vir tentar remediar.
Desde a nossa reunião com o comandante-geral Erir Ribeiro (no dia 12 de
janeiro), não tivemos posicionamento algum das autoridades", revela o
cabo João Carlos Soares Gurgel, um dos líderes do movimento grevista. "O
escudo deles é o nosso regulamento covarde e institucional, que pode
mandar nos prender em caso de rebeldia. Hoje, vivemos em condições
análogas à escravidão".
Caso a greve se confirme, a tendência é que o Batalhão de Choque e o
Batalhão de Operações Especiais (Bope) sejam acionados emergencialmente,
já que a greve não é unânime entre eles. Isso acontece porque os dois
são os batalhões que recebem as melhores gratificações da corporação.
"Como o Bope tem uma boa visão na sociedade, a ideia de governo é
colocá-los para reprimir qualquer movimentação, como fizeram com os
bombeiros. Também temos o apoio de alguns membros do Bope. Na passeata de domingo, onde reunimos 25 mil pessoas,
eles também compareceram", aponta o cabo Gurgel. "Eles sabem que
recebem uma boa gratificação mas, se forem baleados numa operação e
colocados fora de combate, voltam a ganhar o mesmo que qualquer policial
militar. A nossa luta é pela incorporação dessas gratificações.
Denúncias
Ao JB, os policiais militares lotados em UPPs garantem que o
movimento ganhou força nas comunidades pacificadas. A ideia deles é se
aquartelar e cessar as atividades até que o governo responda às
reivindicações.
"A situação nas comunidades com UPPs realmente vai ficar complicada.
Elas ficarão fragilizadas", disse um dos policiais, que também denunciou
uma suposta venda irregular de folgas entre os agentes. "Como os
policiais que moram no interior não conseguem voltar para casa, já que
recebem um vale-transporte de apenas R$ 90, eles acabam vendendo folgas
para outros companheiros".
Procurada pela reportagem, a Polícia Militar informou que "o
comando-geral da não considera a possibilidade de paralisação de
atividades - que é, cabe ressaltar, vedada pela Constituição Federal a
militares, tanto federais, quanto estaduais". A corporação também
informou que mantém diálogo com os representantes do movimento de
greve.
Sobre as denúncias de policiais forçados a viver nas UPPs, o
comando-geral apontou que a solução do problema tem sido a transferência
gradativa dos agentes para os seus municípios de origem, e que apenas
129 dos 3.932 policiais lotados em comunidades pacificadas estão nesta
situação. A assessoria de imprensa também negou ordem de prontidão na véspera da data programada para a greve.
A Polícia Militar não comentou a possibilidade de usar o Bope para intervir nas comunidades pacificadas caso a greve aconteça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário