SALVADOR - O comando do movimento grevista
que atinge parte da Polícia Militar na Bahia admitiu, na tarde deste
sábado, 4, ter diminuído a lista de exigências para que a paralisação
dos PMs seja concluída e que a Assembleia Legislativa, ocupada por
manifestantes desde a terça-feira, seja liberada.
Segundo o presidente da Associação de Policiais e Bombeiros e de seus
Familiares do Estado da Bahia (Aspra), entidade que deflagrou o
movimento, Marco Prisco, a pauta de reivindicações, que inicialmente
listava seis itens, como incorporação de gratificações aos salários e
regulamentação para o pagamento de adicionais, como de periculosidade e
acidente, foi reduzida a dois: anistia dos grevistas e o pagamento da
Gratificação por Atividade de Polícia.
"Veja que são pedidos simples, um é relativo ao retorno ao trabalho
dos colegas e o outro é apenas cumprir o que já determina a lei", diz
Prisco. Ele acrescenta que também abriu mão de participar das
negociações com o governo do Estado - a associação que dirige não é
reconhecida pelo comando da PM no Estado como entidade de classe. "O que
falta ao governo é apenas dialogar com seriedade, porque já diminuímos
bastante a pauta para colaborar com a sociedade, que está clamando por
segurança."
Quando informado de que o governador não negociaria a anistia aos
grevistas e que ainda havia acusado os participantes do movimento de
crimes, incluindo homicídios, Prisco disse concordar que a anistia não
se aplique nesses casos, se comprovados.
"Se o governador diz ter certeza de que há policiais praticando
crimes pelo Estado, esses crimes devem ser investigados e punidos como
determina a lei, sem dúvida", afirmou. "Não é o nosso caso, aqui, e
nenhuma prática criminosa partiu ou foi pedida pela gente. Estamos em um
movimento pacífico na Assembleia e o pedido de anistia é apenas para os
integrantes desse movimento."
Visivelmente cansado depois de quatro dias de mobilização na
Assembleia Legislativa, vestindo chinelo de dedo, bermuda, camiseta
regata e colete balístico e vendo ser cumprida a ordem da Justiça de
reintegração das 16 viaturas policiais que estavam sob poder dos
grevistas desde terça-feira, Prisco só elevou o tom ao comentar sobre os
12 mandados de prisão que, segundo o governador, já foram expedidos
pela Justiça baiana contra as lideranças do movimento.
"Não me chegou nenhuma informação a esse respeito, não sei nem se
estou entre eles, mas sei que não cometi nenhum crime", afirmou. "Se
houver, mesmo, o mandado de prisão, que venham cumprir. Agora, a tropa
que está aqui já disse que não vai aceitar isso. Será que o governo do
PT, que tanto critica a operação do Pinheirinho, vai querer fazer a
mesma coisa aqui? Invadir um lugar onde há pais, mães, crianças,
trabalhadores?"
Filiado ao PSDB há três meses, depois de passar os últimos anos no
PSOL - antes, foi integrante do PT e do PC do B -, o ex-soldado da PM,
afastado dos quadros da corporação em 2002, depois de ter integrado a
liderança da maior greve da PM no Estado, em julho de 2001, também falou
sobre política.
Hoje, trata a manifestação de 11 anos atrás com certo sarcasmo, ao
lembrar que o então deputado Jaques Wagner, junto com outras lideranças
dos partidos da então oposição ao governo César Borges (à época no PFL
de Antonio Carlos Magalhães), apoiaram, com recursos e equipamentos, a
manifestação à época. "Será que não existe mais ninguém daquele PT
hoje?", ironiza.
Ele também admitiu a possibilidade de se candidatar a vereador, este
ano, mas disse estar insatisfeito com o partido. "Sou um ser político,
um revolucionário, e tenho o direito de ser candidato, mas o futuro a
Deus pertence", disse. "Troquei o PSOL pelo PSDB por divergências
internas do partido, mas não sei se vou continuar filiado. Até o
momento, ninguém do PSDB veio aqui apertar minha mão para me dizer 'bom
dia, você está bem?'. Não houve nenhuma declaração pública."
fonte: Estadão
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