Polícia para quem precisa
Ainda há de se descobrir um modo de manifestação que prejudique apenas quem se quer prejudicar e não o povo. Difícil. Tem que ser criativo. Motoristas de ônibus seguiriam o modelo de um movimento que há alguns anos vi ser noticiado na Holanda, se não me engano. O sindicato decidiu pela greve na madrugada. Amanheceu e os motoristas assumiram os seus ônibus normalmente. Porém, a cada parada, quando o passageiro ia pagar a passagem, eles anunciavam: "Não precisa, estamos em greve". Prejuízo? Apenas a quem eles queriam prejudicar, a fim de fazer valer seu alerta. Não para o operário, para o estudante, para o doente com consulta marcada ou para o professor. Esses, não viram confusão, não ficaram sem transporte, seguiram sua rotina. Sem bagunça. Sem violência.
A greve dos policiais militares na Bahia tem dois lados. Tá, é óbvio. Clichê. Mas vamos espiar um pouco além. No lado B da história, o incompreensível à população em geral: o descontrole. O vandalismo, a articulação com estratégias questionáveis, a violência. É claro que espanta. E assusta. Se o sujeito decidiu ser policial, ele deve ter algo diferente dentro de si. Não pode concordar com certos atos. Como não dá para imaginar pastores ou padres promovendo quebra-quebra em nome de Deus. Um profissional da paz não joga o medo contra quem protege.
Agora, o lado A também é claro. Gritante. Por muitos anos, permitiu-se que categorias de servidores essenciais à evolução da sociedade fossem totalmente ignoradas. Pisoteadas em sua dignidade. Foram tratadas como criaturas menores, ao mesmo tempo em que a farra de dinheiro público dançava ao seu redor. É inadmissível encarar policiais recebendo misérias, enquanto deputados desfilam, sem pudor, aumentos astronômicos e vantagens absurdas para si. O dinheiro? Vem da mesma fonte. Sempre. O bolso do cidadão. E isso, claro, gerará uma insatisfação tão contundente quanto a necessidade que grita na sua mesa todos os dias. É preciso entender isso. Não se faz segurança pública sem valorização do sujeito que a promove, o que inclui dignidade no sustento desse homem e de sua família. Assim como inclui, com certeza, tolerância zero nos casos de desvio de conduta. Que maus policiais causam males piores que os bandidos de ofício.
Enfim. Fica desse movimento, que agora avança no Rio de janeiro, que Polícia faz falta nas ruas, sim, que a ordem é boa e não se quer guerra. E policiar é preciso. Policiar as ações públicas em geral. Policiar nossa história. Policiar nosso frágil sistema público. Mas é preciso pensar o que e como se faz. Pelo povo. Pois policiar a ética também é bom, ou o mocinho vira vilão.
Oscar Bessi Filho
Fonte: Correio do Povo 12fev2012
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