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Opinião: Governo esvazia órgão de negociação com servidores públicos
O jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap -
Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, Augusto de
Queiroz, publicou artigo em que chama a atenção para a manobra do
governo, que esvaziou o órgão de negociação com os servidores públicos.
Leia o artigo, na íntegra:
As perspectivas para os servidores públicos no governo Dilma não são das
melhores. Após dois anos sem reajuste, a presidente editou o Decreto
7.675, publicado no Diário Oficial, do dia 23 de janeiro, retirando os
poderes da Secretaria do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
encarregada da negociação coletiva com as entidades de servidores
públicos.
As mudanças, detalhadas no anexo I do Decreto, que trata da estrutura
regimental do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, consistem
na extinção da Secretaria de Recursos Humanos, com a incorporação de
suas atribuições na Secretaria de Gestão Pública, e na criação da
Secretaria de Relações do Trabalho no Serviço Público, que ficará
responsável pela "negociação de termos e condições de trabalho e solução
de conflitos no serviço público federal".
A idéia original da presidente da República e da ministra do
Planejamento era extinguir a Secretaria de Recursos Humanos, levando
suas atribuições para a Secretaria de Gestão, e criar uma assessoria
especial para tratar da negociação coletiva. Só ficou como secretaria
para não retirar o status de secretário do saudoso Duvanier Paiva, que
seria o ocupante do novo cargo.
Resumidamente, à Secretaria de Relações de Trabalho no Serviço Público
compete: 1) organizar e supervisionar o Subsistema de Relações de
Trabalho no Serviço Público Federal (SISRT), de que trata o Decreto
7.674/2012, 2) exercer a competência normativa em matéria de negociação
coletiva de termos e condições de trabalho e solução de conflitos no
serviço público federal, 3) organizar e manter o cadastro nacional das
entidades sindicais representativas dos servidores, 4) propor medidas
para a solução, por meio de negociação de termos e condições de
trabalho, de conflitos surgidos, conforme diretrizes estabelecidas pela
Presidente da República, 5) articular a participação dos órgãos e
entidades da administração pública nos procedimentos de negociação
surgidas no âmbito das respectivas relações de trabalho.
A competência de organizar e manter cadastro de entidades sindicais não
tem o propósito de substituir o Ministério do Trabalho e Emprego na
concessão de registro sindical, como algumas entidades chegaram a
imaginar, mas apenas a função de manter um banco de dados para efeito de
controle da liberação de dirigente sindical para exercício de mandato
classista, entre outras finalidades inerentes às atribuições da nova
secretaria.
Temas como criação ou reestruturação de carreiras, planos de cargos,
padrão remuneratório, se por vencimento ou subsídio, requisitos para
ingresso no serviço público, gerenciamento da folha, avaliação de
desempenho, desenvolvimento profissional na carreira, entre outras
atribuições próprias da gestão de pessoas serão de responsabilidade da
nova super-secretaria de gestão e não mais da competência ou da
responsabilidade do titular de secretaria encarregado da negociação.
As pautas de reivindicação das entidades sindicais podem até contemplar
os temas acima, mas a Secretaria de Relações de Trabalho no Serviço
Público não terá poderes para negociá-las. Só poderá fazê-lo
considerando as diretrizes do governo e considerando as competências
técnicas da Secretaria de Gestão Pública na matéria. E, se decidir
autorizar, só o fará após ouvir o Ministério ou órgão a que se referem
às mudanças e observadas as diretrizes de governo.
Até mesmo nos temas específicos de sua competência, como a de firmar
termos de compromisso sobre condições de trabalho e remuneração, desde
que observado os limites fixados pela Junta Orçamentária do governo, a
nova Secretaria de Relações de Trabalho no Serviço Público dependerá da
Secretaria de Gestão, que detém os dados, registros e informações sobre
os quantitativos, indispensáveis para calculo dos impactos.
A intenção da ministra do Planejamento e da presidente da República,
focadas na contenção do gasto com pessoal, era mesmo retirar a autonomia
do responsável pela negociação coletiva, para evitar fato consumado,
como ocorreu com negociações na gestão do presidente Lula, como foi o
caso da adoção do subsídio para os auditores-fiscais da Receita Federal
do Brasil.
O raciocínio é simples. Ao transferir o controle da formulação da
política de pessoal e da gestão de pessoas para a Secretaria de Gestão,
que só se relaciona com órgãos governamentais, não atendendo agentes
externos, como entidades sindicais, os riscos de surpresas com mudanças
irreversíveis, sem consenso no governo, são bem menores, porque a
secretaria encarregada da negociação nada fará sem autorização ou
consulta ao órgão que detém esse controle.
A temperatura vai subir na relação das entidades de servidores com o
governo federal: os servidores do Judiciário estão há quatro anos sem
reajuste; a Polícia Federal, há três; e os demais servidores, há dois.
Não bastasse isto, o governo pretende aprovar a previdência complementar
do servidor este ano e retirar os poderes do único órgão no Executivo
com conhecimento, sensibilidade e disposição de negociar reajuste
salarial para 2013.
Fonte: Diap.
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