É cedo para tecer comentários mais profundos acerca das mudanças
provocadas por esta última manifestação na Polícia Militar da Bahia, mas
uma coisa é certa e salta aos olhos: a corporação perdeu força para
fazer valer aquilo que ela mesma entende por militarismo. Princípios
como hierarquia e disciplina, nos moldes tal e qual aprendemos, foram
fatalmente sangrados.
Desde a transição para o estado democrático de direito, colocações
são feitas acerca do modelo brasileiro de segurança pública, em especial
às PM´s: “são duas meias polícias”, alguns dizem, numa crítica à falta
do ciclo completo; “uma polícia militar, fortalecida e nutrida nos anos
ditatoriais brasileiros, simplesmente, diverge do espírito democrático e
republicano que o país vive”, dizem outros; “é questão de segurança
nacional que as polícias militares continuem a ser militares. De outra
forma, como controlar um “efetivo deste porte?”, dizem também. “A
subordinação direta ao Exército, como força auxiliar e reserva, nos
garante que a disciplina e a hierarquia nas polícias militares sejam
preservadas – ouvi isto quando ingressei na PM. E por aí vai, mas o fato
é que temos um modelo exaurido, defasado, que década após década mostra
sinais de esgotamento e nada se faz.
O governo quer os benefícios de ter uma contingente militar a sua
disposição, mas esquece-se que tudo tem um preço. O Militarismo tem
benefícios sociais inquestionáveis, mas não é de graça, custa muito caro
e quem é militar sabe o preço que paga por ser, principalmente,
policial militar. Desde sempre o militarismo é sinônimo de hierarquia,
disciplina e superação dos limites, contudo, a evidente percepção de que
as tropas militares estão sendo sugadas por interesses pessoais,
lesadas pela simples vedação legal à greve, excluídas de todo o processo
de melhorais aos servidores do estado, enfraquece o modelo. O
militarismo é pautado na lealdade e na confiança entre superiores, pares
e subordinados. Quando isto vai se perdendo – no nosso caso já se
perdeu há tempos – das cinzas do militares surge o fênix dos
mercenários.
Tropas militares devem ser sempre tratadas de modo diferenciado
positivamente, afinal, é um contingente diferenciado, do contrário,
melhor desmilitarizar, e tratar semelhantemente aos demais servidores.
Simples assim. O militarismo, se é interesse do estado e da sociedade,
deve ser utilizado como uma ferramenta de aperfeiçoamento dos mecanismos
de bem estar social, não como meio de amordaçamento, privações e
restrições.
Precisamos redefinir nosso modelo de segurança pública urgentemente.
Esta é uma importante questão de Estado. Militares, tal qual éramos como
há quase dez anos atrás – pouquíssimo tempo atrás – quando ingressei na
corporação, com certeza, não somos mais. Nem nos meus sonhos mais
“subversivos” imaginaria que uma tropa de policiais militares fechasse a
entrada de um batalhão de polícia com uma piscina em um lado, um
“pula-pula” do outro, regado a churrascada, bebida, pagode etc, sem a
mínima ou com a ineficaz intervenção de quem deveria fazê-lo.
O militarismo das polícias militares está ferido de morte. A situação
é insustentável. Urge um novo modelo, justamente porque chegamos onde
chegamos tentado remendar o que aí está, e acabamos ficando sem
referência de polícia ou de militar, e nos sentindo uma massa de manobra
oprimida. Militar fazer greve é um absurdo, se aproveitarem de sua
condição de militar para explorá-los também; militar transgredir a lei é
um absurdo, o governo não regulamentar e pagar benefícios aprovados em
lei há mais de 14 anos, também; apostar na subserviência e amordaçamento
da tropa é um erro e está provado, não repensar o modelo é pagar para
ver novamente um filme que já está ficando chato de passar.
Autor: Marcelo Lopes
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