Não
é necessário repetir que nas últimas eleições um dos temas mais
discutidos, se não o mais, foi segurança pública. Pesquisa realizada
pela CNI/IBOPE no segundo semestre de 2011 concluiu que uma das maiores
preocupações dos brasileiros é com a segurança. Mas isso todos sabemos.
A
greve da Polícia Militar da Bahia, que assustou o Brasil e parte do
mundo interessada em brincar seu carnaval, chamou mais uma vez a atenção
para as condições de trabalho a que são submetidos os profissionais
desta área no país. Segundo o professor José Vicente Tavares dos Santos,
da UFRS,(http://www.estadao.com. br/noticias/suplementos,mais- uma-para-ficar-na-historia, 834526,0.htm), o
Brasil perdeu a chance de discutir suas polícias na Constituinte de
1988 e agora paga o preço de uma crise organizacional do sistema de
segurança pública, e acrescenta que há enorme dificuldade do poder
público e da imprensa de reconhecer a legitimidade dessas mobilizações
como luta social de uma categoria por melhores condições de vida,
mostrando (estas greves) que estes profissionais estão se sentindo
desrespeitadas nos seus direitos de cidadãos e trabalhadores.
Que
o país precisa urgentemente discutir um novo modelo de segurança
pública, um novo modelo de polícia, não é apenas opinião dos
profissionais de segurança pública, como também dos acadêmicos que se
dedicam ao tema, a exemplo do próprio Professor José Vicente (RS), e dos
Professores Marcos Rolim (RS), Paulo Neves (SE), Luiz Eduardo Soares
(RJ), Cláudio Beato (MG) entre tantos outros. Mas como dependemos, e
isso é natural num estado democrático de direito, dos políticos, que
fazem tanto o legislativo como o executivo, para concretizar tais
mudanças, vamos nos concentrar nestes últimos para apresentar algumas
idéias.
É
sabido que “a corrupção espalhou-se pelo país a partir do péssimo
exemplo emanado das altas esferas de nossa vida pública, introduzindo
seus tentáculos também no interior dos aparelhos de segurança,
implantando um cenário de caos e descontrole.”
Diante
das “graves deficiências das corporações policiais” populações inteiras
ainda vivem sob o manto “da insegurança e do medo” impostos pelos
traficantes e pela banalização da violência.
“É urgente – inadiável – dar um vigoroso basta a tal situação!!”
Precisamos “devolver aos cidadãos de nosso país o sagrado direito democrático à segurança pessoal, familiar e comunitária”
“As
propostas a seguir não possuem coloração partidária, nem credo
ideológico”, tem a intenção de “convocar uma amplíssima unidade nacional
para enfrentar um inimigo comum: a violência.”
“O atual modelo dualizado de polícia, como instituições policiais de ciclo incompleto, está esgotado.”
Uma
mudança no sistema de segurança pública, mormente nas polícias,
“dependem, fundamentalmente, da vontade política dos governantes”. As
mudanças mais profundas, que demarcarão o “fim do modelo de polícia
criado nos períodos autoritários, exigem o estabelecimento de um novo
marco legal para o setor de segurança”. As polícias estaduais de “ciclo
completo, produtos do novo marco constitucional, tem como base o Sistema
Único de Segurança Pública”.
É
fundamental que “o novo modelo seja subordinado ao poder civil”, com
polícia de ciclo completo, com as seguintes mudanças: (1) extinção dos
tribunais e auditorias militares estaduais; (2) Lei Orgânica Única para
as polícias estaduais; (3) desvinculação entre as polícias militares –
enquanto reserva – e o Exército; (4) investigação preliminar sem
indiciamento; (5) ESTABELECIMENTO DE VENCIMENTO BÁSICO NACIONAL PARA AS
POLÍCIAS; (6) órgãos periciais autônimos e (7) Ouvidorias de Polícia
autônomas e independentes.
Estas
idéias foram apresentadas pelo candidato a Presidente da República Luiz
Inácio LULA da Silva, através do Instituto Cidadania, em seu Projeto de
Segurança Pública para o Brasil, em 27 de fevereiro de 2002, e as
vésperas de completar 10 anos, continuam bastante atuais.
Antes de ser acusado de plágio, as frases entre aspas são do próprio LULA, escritas na apresentação do referido Projeto.
Nos
dois governos de LULA, o investimento em segurança, através do
PRONASCI, mudou para melhor a realidade das polícias nos aspectos
tecnológicos e bélicos, todavia não obteve êxito na redução dos índices
de homicídios, nem foi capaz de atender aos anseios dos policiais no que
concerne às condições de trabalho (incluindo aí, salários). Essa é a
prova que implementação de políticas públicas deve andar de mãos dadas
com valorização profissional, aliando as duas, a gestão de excelência.
Findo
a era LULA, as discussões sobre as necessidades de mudanças das
estruturas das forças policiais não foram sequer iniciadas.
Fomos
buscar nas palavras de um dos maiores líderes de nosso país, a
necessidade da mudança do sistema atual de segurança pública, porque
esta crise não é “privilégio” dos governos do Rio e da Bahia, mas de
todos os governos, de todas as esferas de poder.
Não
acreditamos que com o fim da greve da Bahia e com a prisão dos líderes
de associações do Rio, a crise tenha acabado. O máximo que conseguirão é
adormecer esta luta social, e não por muito tempo.
Há
estados, como Sergipe, que avançaram em relação às remunerações dos
profissionais de segurança pública, principalmente em relação à Polícia
Civil, ficando algumas questões pontuais nesta seara a serem resolvidas,
todavia há que se reconhecer limites em relação à gestão, que
dificultam implementações de políticas de segurança.
Não
precisam nos dizer o que fazer para melhorar a segurança pública (onde
nasce o sol), sabemos (governo, profissionais e sociedade) a resposta.
Henrique Alves da Rocha – Tenente Coronel PM
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