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domingo, 26 de fevereiro de 2012

Piso Nacional do Magistério: o desejável e o possível

Inquestionável avanço em relação à proposta anteriormente apresentada e ao que já foi concedido aos professores estaduais do Rio Grande do Sul, o calendário de recomposição salarial dos professores estaduais divulgado na sexta-feira (24) pelo governo Tarso Genro fica ainda aquém do reivindicado pelos docentes e será insuficiente para garantir o pagamento do Piso Nacional do Magistério, nos termos atualmente definidos pela lei.
Os 76,68%, a serem pagos em sete parcelas até novembro de 2014, não acompanharão os reajustes anuais do valor do custo-aluno, definido pelo Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e que, de acordo com a lei, estabelece também o reajuste anual do piso dos professores.
Para se ter uma ideia clara do que ocorre, apenas neste ano, enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), utilizado como referência pelo governo estadual, ficou em 6%, o custo-aluno/Fundeb foi reajustado em 22%. Aplicando-se o índice Fundeb (a ser confirmado pelo MEC na segunda-feira), o salário-base de um professor em 40h semanais chegará a cerca de R$ 1.450,00 ainda em 2012, enquanto que, pela proposta do governo do RS, seu valor será de R$ 1.260,19 e será atingido somente em novembro de 2014.
A querela nacional envolvendo o índice a ser utilizado para o reajuste do piso contrapõe o MEC e os sindicatos de professores, de um lado, e os governos estaduais, de outro. Em 2011, 17 estados da federação não pagaram o piso nos termos estabelecidos pela lei. Ao mesmo tempo, ações foram interpostas junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) por diversos governos estaduais, objetivando a desvinculação dos reajustes do custo-aluno/Fundeb.
Ainda que o STF já tenha se manifestado pela constitucionalidade da lei, entendendo que ela não fere a autonomia dos Estados, o que os governos estaduais esperam agora é que o tribunal acate o argumento de que a definição do índice de reajuste deve ficar a cargo das Assembleias Legislativas. Decisão que, na prática, derrubaria a decisão anterior do próprio STF e transferiria para os estados a decisão final do pagamento. Até que as ações sejam julgadas, a controvérsia continuará.
O que chama a atenção neste imbróglio, em primeiro lugar, é o fato de que o Ministro da Educação à época da aprovação da Lei do Piso Nacional do Magistério era o atual governador do Rio Grande do Sul. O mesmo Tarso Genro que, enquanto ministro, foi favorável aos termos da lei do piso e que hoje, enquanto governador, vê-se impossibilitado, por insuficiência orçamentária, de pagar o piso salarial, tal como definido na lei que o criou.
Chama a atenção, em segundo lugar, o fato de que Tarso Genro vê-se hoje pressionado, ao mesmo tempo, por dois grupos de servidores públicos estaduais. De um lado, professores brigando pelo pagamento do piso e, de outro, funcionários responsáveis pela administração do orçamento estadual argumentando pela impossibilidade do seu pagamento. Não deve ser ocultado o fato de que foi decisão do governador o pagamento do piso e a fixação do cronograma agora divulgado. Tarso Genro determinou à Fazenda estadual tal decisão. Decisão, que prevê, desde já, a possibilidade de revisão em 2013, caso o crescimento da receita seja maior do que o atualmente projetado.
Lembre-se, por fim, que Tarso Genro não tem hoje como pressionar o governo federal para que ele transfira recursos para o pagamento do Piso Nacional do Magistério. O governo estadual está impossibilitado de agir assim, pois o Rio Grande do Sul não se enquadra nas exigências da lei para receber a complementação do Fundeb, nem satisfaz, há muitos governos, a exigência legal de destinar o mínimo constitucional para a educação.
Além disto, devido à penúria financeira em que se encontra ainda hoje o Estado do Rio Grande do Sul, o atual governo depende (e, ao que tudo indica, dependerá durante todo o seu mandado) dos aportes e das benesses do governo federal para equilibrar suas contas e para promover o desenvolvimento. Será o bom relacionamento com o governo Dilma Rousseff que garantirá investimentos novos, transferências de recursos, obras e, em uma situação ideal, a renegociação da dívida estadual.
Desta forma, se o reajuste salarial oferecido aos professores estaduais e o calendário de seu pagamento não são suficientes para promover a recuperação salarial necessária dos docentes, nem para o pagamento do Piso Nacional do Magistério, há que se reconhecer que estas medidas significam um ganho salarial não desprezível. Elas representam o possível no momento e são, sem dúvida, mais do que o que foi concedido aos professores pelos governos estaduais anteriores.
Um dado que não tem sido destacado, mas que não pode passar despercebido, é que, devido às peculiaridades do Plano de Carreira do Magistério Público Estadual do Rio Grande do Sul, hoje mais de 80% dos professores encontram-se nos níveis 5 e 6 da carreira, os dois níveis mais elevados. De acordo com o calendário de reajuste apresentado, o salário médio dos professores será de R$ 4.885,19 em 2014 e será recebido por 82,54% da categoria, de acordo com as projeções governamentais. Não será um alto salário, principalmente se comparado com os salários médios dos poderes judiciário e legislativo, mas será superior ao de muitos outros trabalhadores com nível de escolaridade igual a dos professores.
Tudo isto não significa, entretanto, que os professores estaduais devam se desmobilizar, abandonando a luta pela valorização profissional, pois ela é elemento fundamental em uma política de melhoria da qualidade da educação básica no Rio Grande do Sul e em todo o Brasil.

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