Neste
final de semana o governo estadual do PT permaneceu surpreendentemente
mudo sobre o movimento sedicioso que há 40 dias o mantém refém atrás das
portas do Piratini. Acontece que brigadianos inconformados com seus
baixos salários, resolveram atear fogo em pneus, erguer barricadas de
fogo e agora ameaçar com cargas de dinamite as portas do próprio
Palácio, conforme ocorreu sexta-feira. O governador Tarso Genro, acuado,
não sabe como exercer sua autoridade de Comandante em Chefe da Brigada
Militar, recuou assustado, não identificou os responsáveis pelas ações,
faz um discurso apenas gongórico e concedeu quase tudo o que queria a
soldadesca, mas arranjou confusão maior ainda com sargentos e oficiais,
que ameaçam levar o governo "até as portas do interno". A mídia não
avança em suas reportagens investigativas. Neste domingo, nem mesmo o
jornal Zero Hora quis tratar do assunto, que é nitroglecerina pura.
A seguir, leia a primeira parte do artigo deste domingo do jornalista Flávio Tavares, publicado em Zero Hora:
Relembramos o passado não para chorar ou sorrir, mas para entender o que somos e o que viremos a ser. O passado é um exercício de futurologia, não uma anedota de coisa morta com sabor a champanhota. Assim, hoje me atenho a dois fatos. Um de 50 anos: o comportamento dos soldados da Brigada Militar no Movimento da Legalidade, em 1961. Outro, de 30 anos: o infarto do general João Figueiredo, em 1981, que pôs em choque o processo de redemocratização que o presidente conduzia.
Vivi as entranhas de ambas as situações e relembro acontecimentos que podem ser alerta ou ensinamento às coisas de agora.
No fim de agosto de 1961, quando o Batalhão de Operações da Brigada Militar ia partir para Torres para defender o Rio Grande de um ataque dos fuzileiros da Marinha, o capitão Heraclides Tarragó reuniu a tropa e expôs o perigo da situação. Disse:
– Caso ataquem nosso Estado, nossa missão será de guerra. Missão perigosa que ninguém está obrigado a cumprir. Oxalá nossas autoridades consigam manter a paz e a ordem na República. Se não for possível, talvez tenhamos que derramar nosso sangue numa guerra civil. Por isto, quem não quiser seguir pode sair de forma. Alguns têm família numerosa e outros compromissos e não estão forçados a nada. Enquanto não houver luta que obrigue ao cumprimento do dever, o comando da Brigada não tomará nenhuma medida contra aqueles que não quiserem ir.
Chovia e fazia frio e só isto já predispunha a não partir, mas ninguém “saiu de forma”. Os brigadianos deram o grande exemplo de abnegação na Legalidade. Ganhavam pouco, mas dignamente. Seus chefes lhes transmitiam a visão de que “serviam à sociedade” e isto era a remuneração maior.Hoje tratados como párias pelo Estado, os soldados da Brigada têm de queimar pneus para que o governo os ouça. Na fumaça nauseabunda, o protesto é também nosso pelo descaso dispensado a esses homens a quem recorremos nos momentos de perigo.
A seguir, leia a primeira parte do artigo deste domingo do jornalista Flávio Tavares, publicado em Zero Hora:
Relembramos o passado não para chorar ou sorrir, mas para entender o que somos e o que viremos a ser. O passado é um exercício de futurologia, não uma anedota de coisa morta com sabor a champanhota. Assim, hoje me atenho a dois fatos. Um de 50 anos: o comportamento dos soldados da Brigada Militar no Movimento da Legalidade, em 1961. Outro, de 30 anos: o infarto do general João Figueiredo, em 1981, que pôs em choque o processo de redemocratização que o presidente conduzia.
Vivi as entranhas de ambas as situações e relembro acontecimentos que podem ser alerta ou ensinamento às coisas de agora.
No fim de agosto de 1961, quando o Batalhão de Operações da Brigada Militar ia partir para Torres para defender o Rio Grande de um ataque dos fuzileiros da Marinha, o capitão Heraclides Tarragó reuniu a tropa e expôs o perigo da situação. Disse:
– Caso ataquem nosso Estado, nossa missão será de guerra. Missão perigosa que ninguém está obrigado a cumprir. Oxalá nossas autoridades consigam manter a paz e a ordem na República. Se não for possível, talvez tenhamos que derramar nosso sangue numa guerra civil. Por isto, quem não quiser seguir pode sair de forma. Alguns têm família numerosa e outros compromissos e não estão forçados a nada. Enquanto não houver luta que obrigue ao cumprimento do dever, o comando da Brigada não tomará nenhuma medida contra aqueles que não quiserem ir.
Chovia e fazia frio e só isto já predispunha a não partir, mas ninguém “saiu de forma”. Os brigadianos deram o grande exemplo de abnegação na Legalidade. Ganhavam pouco, mas dignamente. Seus chefes lhes transmitiam a visão de que “serviam à sociedade” e isto era a remuneração maior.Hoje tratados como párias pelo Estado, os soldados da Brigada têm de queimar pneus para que o governo os ouça. Na fumaça nauseabunda, o protesto é também nosso pelo descaso dispensado a esses homens a quem recorremos nos momentos de perigo.
Fonte: Polibio Braga
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