25 de julho de 2008 N° 15673 Porto Alegre
Imagens desfazem mistério em posto
Com base em cenas gravadas em estabelecimento comercial, Polícia Civil indiciou três funcionários do local pelas agressões que resultaram na morte de segurança da Assembléia Legislativa
Imagens anexadas ao inquérito sobre a morte do inspetor de segurança da Assembléia Legislativa Sílvio Antônio Pereira Gonçalves, 33 anos, revelam que ele foi espancado assim que chegou a um posto de combustíveis na esquina das avenidas João Pessoa e Venâncio Aires, na madrugada de 7 de julho, na Capital.
As cenas, gravadas pelo circuito de TV do próprio posto, associadas ao laudo sobre a causa da morte - que apontou edema cerebral consecutivo a traumatismo craniano - levaram o delegado Rodrigo Bozzetto, da Delegacia de Homicídios, a indiciar três pessoas por co-autoria no crime de lesão corporal seguida de morte.
Os indiciados são: Juarez Carlos Polidoro, segurança do posto, Marlon Rodrigues dos Santos Nunes, frentista, e Jonatas Alves Machado, balconista da farmácia contígua à loja de conveniência do posto.Bozzetto encerrou ontem as investigações, indiciando ainda outras duas pessoas por falso testemunho:
Nelci Teresinha Reszka, atendente da loja de conveniência, e a mulher de Gonçalves, Maira Mendes Moura.Segundo Bozzetto, as duas teriam prejudicado o trabalho policial, omitindo informações importantes para o esclarecimento do caso.
A mulher da vítima teria omitido que ele era usuário de drogas, e a atendente teria dito que não viu o que aconteceu no posto, quando as imagens mostram ela testemunhando as agressões.Após análise de quase 12 horas de gravações captadas por quatro câmeras, o delegado Bozzetto se concentrou em 17min18s de imagens, entre 4h34min e 5h8min, considerando o momento decisivo para o desfecho do crime.
Nesse período, aparece a vítima, vestida de abrigo e tênis, entrando correndo na loja de conveniência e derrubando uma cadeira acidentalmente. Instantes depois, o frentista, o segurança (com um cassetete nas mãos) e o balconista da farmácia imobilizam Gonçalves e o arrastam para fora da loja.
No caminho, o servidor fica sem os calçados e é agredido com socos e pontapés. Os golpes deixam Gonçalves sem forças para se levantar. Ele rola pelo solo alguns metros, gesticula, tenta se sentar, mas volta a cair.As imagens não mostram, mas enquanto isso, o frentista liga para o 190, o serviço de emergência da Brigada Militar.
No telefonema, gravado, ele confessa: "Já demo nele aqui. O cara entrou e quebrou tudo na loja e não quer ir embora daqui".O servidor da Assembléia ficou desfalecido por 21 minutos próximo às bombas de combustíveis.
As câmeras mostram que, às 4h57min, uma viatura da BM com três PMs chega ao local. Gonçalves pronuncia palavras, mas não consegue se erguer. Com dificuldades, os policiais puxam o servidor para o capô da viaturas e o algemam. Depois, ele é colocado no banco traseiro da viatura. O carro deixa o posto às 5h8min, em direção ao Hospital de Pronto Socorro (HPS), onde Gonçalves morreu no dia seguinte.
A entrada do servidor no HPS, distante 700 metros do posto, foi registrada sete minutos depois, às 5h15min daquela madrugada, segundo o delegado Ranolfo Vieira Junior, diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais.
Para ele, o tempo de deslocamento foi "normal", levando-se em conta eventuais divergências entre relógios.- Pelas imagens, os PMs permaneceram 11 minutos no posto e agiram dentro das normas técnicas para preservar a integridade física deles e da vítima - afirmou o delegado Ranolfo Vieira Junior, diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais.
As imagens inocentam os PMs de qualquer suspeita de agressão no posto. Quando a morte veio à tona, a conduta dos PMs chegou a ser questionada por amigos da vítima e deputados da Assembléia, onde Gonçalves trabalhava.
( joseluis.costa@zerohora.com.br )
JOSÉ LUÍS COSTA
JOSÉ LUÍS COSTA
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