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Comunidade dos Policiais e Bombeiros do Brasil

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A luta continua

Folha Universal  publicado em 24/07/2011 às 00h00.
Bombeiro que foi destaque do protesto da categoria por melhores salários no Rio de Janeiro fala sobre as más condições da profissão e agradece apoio da população
Talita Boros
talita.boros@folhauniversal.com.br

Ele se tornou símbolo da luta dos bombeiros do Rio de Janeiro, que salvam vidas e têm o pior salário nacional da categoria. Com lágrimas no rosto, a imagem do Sargento Bombeiro Militar José Carlos Barbosa, o sargento BM Barbosa, de 40 anos, estampou sites e jornais e foi capa da Folha Universal no mês de junho, cuja edição contava o drama vivido por esses heróis na busca por mais reconhecimento e melhores condições de trabalho. Nesta entrevista, ele lembra as dificuldades passadas pelos 439 homens que foram presos após invadir o quartel central do Corpo dos Bombeiros durante uma manifestação no início do mês passado, que sensibilizou e mobilizou a população do País. Para Barbosa e todos os outros companheiros de profissão, a luta ainda não terminou.

1 – Qual foi a sensação de ver seu rosto estampado em vários jornais, representando a luta da sua categoria? 
Representou muito. Eu participei da entrada no quartel, mas fui embora antes de o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) entrar. No momento daquela foto, eu tinha acabado de ver nos jornais o que tinha ocorrido na noite anterior e estava escutando o depoimento de um colega na frente da Assembleia Legislativa, que contou que a mulher dele tinha sofrido um aborto por causa da irresponsabilidade das autoridades no caso. Meu coração naquela hora estava um mix de sentimentos: indignação, frustração, dor, raiva e sensação de impotência por não ter conseguido ajudar meus amigos. Na verdade, aquelas lágrimas significaram um pedido de socorro para a população fluminense.

2 – Acha que os protestos, no fim, valeram a pena?
As nossas reivindicações sempre foram ordeiras. Nunca tinha tido nenhum tipo de confusão. Nós estávamos realizando protestos desde 17 de abril. O que aconteceu no dia 3 de junho foi um acidente de percurso. Sempre falo que “esquecemos de colocar o cinto de segurança e colidimos”. Não foi planejado. Nossa intenção era que as autoridades nos ouvissem e, como não houve bom senso, decidimos entrar no quartel. Nosso objetivo era ficarmos aquartelados. As autoridades não respeitaram isso em momento algum. E esse desrespeito acarretou na invasão violenta do Bope onde os nossos 439 heróis foram presos. Foi trágico.

3 – Quais são as principais reivindicações dos bombeiros?
Desde o começo dos protestos, as reivindicações são baseadas em quatro pontos fundamentais. A primeira é a reposição salarial. Hoje os homens do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar do Rio de Janeiro têm o pior piso salarial do País. Ganhamos no final do mês R$ 950 líquidos. Desde abril, estamos pedindo o que é justo para sobreviver, que é o salário de R$ 2 mil líquidos. As outras são: o fim das bonificações discriminatórias, porque bonificação não é salário, além de vale-transporte e melhores condições de trabalho.

4 – O reajuste de 5,52% nos salários dado pelo governador Sérgio Cabral depois das prisões era o que vocês esperavam?
Na verdade não houve nenhum aumento extra. Esses 5,52% foram apenas uma antecipação de um reajuste que já estava acertado. Essas parcelas estavam previstas para começarem a ser pagas em dezembro. O governo iria pagar 1% durante 48 meses, até 2014. No fim, isso não muda nada, já que não tem nada a ver com reajuste salarial que nós estamos reivindicando.

5 – Todos os bombeiros que foram presos após a invasão do quartel ganharam anistia. O que isso significou para vocês?
Não estava nos nossos planos precisar de anistia, mas como acabamos nessa situação depois da entrada no quartel, posso dizer que ela foi muito importante. A anistia impediu que os colegas fossem processados criminalmente e administrativamente.

6 – A população manifestou apoio à causa de vocês. Que importância teve essa mobilização popular?
O apoio da população foi fundamental. Aliás, queria aproveitar esta entrevista para agradecer, em nome de todos os bombeiros do Rio de Janeiro, à população pelos gestos e manifestações de apoio. Não esperávamos tanto carinho.

7 – Como está hoje a situação dos bombeiros do Rio de Janeiro?
Nada mudou desde o episódio do quartel e das prisões. Nossas reivindicações ainda existem e, infelizmente, nós voltamos à estaca zero. Continuamos lutando pelos mesmos quatro pontos que já pedíamos antes.

8 – Está acompanhando a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 300, que prevê piso salarial nacional para policiais e bombeiros?
 A PEC 300 é uma reivindicação pela qual lutamos há 3 anos, na tentativa de estipular um piso salarial para todos os bombeiros do Brasil. Ela é muito importante porque pode acabar com esses constrangimentos, como o que ocorreu conosco no início de junho. Com a PEC 300 finalmente teremos um parâmetro nacional para os bombeiros e policiais militares.

9 – Como se tornou bombeiro?
Eu sempre falo que sou bombeiro por vocação. Oficialmente, sirvo à corporação há 19 anos, mas sou bombeiro de coração há 36 anos, porque decidi o que queria ser quando tinha 4. Naquela época, minha tia tinha um namorado que era bombeiro, que me levou para conhecer onde trabalhava. Lembro bem quando entrei pela primeira vez no quartel Imperador Dom Pedro II (em Petrópolis) e fiquei apaixonado pelos equipamentos. Foi naquele momento que eu decidi o que queria ser pelo resto da vida.

10 – Qual foi a ação que mais marcou sua vida de bombeiro?
Já passei por várias situações, mas a mais marcante aconteceu ano passado, quando uma aeronave da corporação caiu em Resende, no sul do Rio de Janeiro. Dois oficiais morreram. Um coronel e um aspirante. O aspirante era muito novo, foi muito triste. Os corpos ficaram completamente carbonizados. Foi muito difícil ver os colegas assim. Me senti completamente impotente.

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