Crédito: JOÃO LUIS XAVIER
Sempre que há uma greve no Brasil procuro ler as reivindicações que não
foram atendidas e, por consequência, desencadearam o movimento
paredista. Como não há mais greves no setor privado, hoje qualquer
paralisação situa-se no setor público. E lá está a reivindicação eterna:
pagamento dos dias parados. Tornou-se um axioma das lideranças
grevistas exigirem remuneração por serviços que deixaram de ser
prestados e que jamais poderão ser recuperados, assim como o tempo não
caminha para trás. Estava eu (e mais três brasileiros) visitando um
poderoso sindicato metalúrgico que congregava os trabalhadores do
Boeing, em Seattle, Estado de Washington, costa Oeste dos EUA, quando
recebi a melhor definição de greve, dada por um líder sindical.
Perguntado quando ocorreu a última greve na Boeing, ele respondeu que
fora há mais de 20 anos. Um líder sindical brasileiro que viajava em
nosso grupo fez a próxima pergunta: "Vocês receberam os dias parados?".
Resposta: "Como assim, receber dias parados? Dias parados são dias não
trabalhados". Ele queria dizer que quando se faz uma greve, qualquer
trabalhador sabe que terá prejuízos, assim como o patrão. Greve é
enfrentamento, é quase uma guerra, logo há baixas de ambos os lados. No
caso específico, as baixas são os salários descontados pelos dias
perdidos e a linha de produção interrompida ferindo o bolso do patrão. É
a noção do prejuízo que apressam as negociações de uma greve com ética,
isto é, com o enfrentamento dentro da lei, sem a esperteza da exigência
do pagamento dos dias parados. O Brasil inventou a greve do setor
público que não é greve, mas um descanso remunerado, cuja conta é paga
pelos maiores prejudicados, os contribuintes.
Fonte: Correio do Povo 29julho2012
Coluna do Rogério Mendelski
rogerio@radioguaiba.com.br
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